Segundo Freud, o sujeito humano vem ao mundo num estado de total desamparo, e depende do adulto que dele se ocupa até mesmo para sobreviver. Não conta com o instinto que guia os animais na natureza. Deficiente de instintos, o bebê humano só conta com a ajuda mais ou menos eficiente da mãe, ela igualmente deficiente de qualquer instinto maternal que a oriente na satisfação das necessidades do filho.
É nesse desencontro que nascemos e nos constituímos como sujeitos, dependendo da palavra, de início vagidos, interpretada pelo outro, para obter a satisfação. É nesse contexto que as necessidades do sujeito se transformam em demanda. Demanda de que o outro o ame, única garantia de sobrevivência.
O que escapa entre a necessidade e a demanda é o desejo que anima o sujeito do inconsciente. Este desejo provém da falha, da impossibilidade de que o outro o entenda totalmente ou mesmo que atenda totalmente sua demanda de amor inesgotável e, portanto, impossível de ser atendida. A esta falha inevitável entre o sujeito e o outro, Freud denominou de castração e às ficções que cada um de nós inventa para justificar a impossibilidade do encontro perfeito, de complexo de Édipo.
Deste modo, o sujeito da psicanálise está desde a origem referido ao outro, que pela via da palavra, único meio de intercâmbio, presentifica a cultura. É, desde sempre, um sujeito político.
Resta aos sujeitos, seu desejo que lhes permite inventar, criar, ir adiante, mudar aos outros e a si mesmo. É desse desejo que a psicanálise fala e trata. Essa é a sua política: política do desejo.